sábado, 29 de janeiro de 2011

Praça da Estação, um quarteirão histórico

Em 1856, o engenheiro Mariano Procópio Ferreira Lage fundou a empresa Companhia União e Indústria, onde instalou a primeira estação de diligências. De lá projetou, construiu e deu nome a primeira estrada de rodagem brasileira. Ela foi planejada para cobrança de pedágio, de suas diligências, encurtar o caminho entre Petropólis e Juiz de Fora  e facilitar o transporte do café.

No entanto, a Companhia não obteve resultados satisfatórios, vindo a extinguir os serviços de diligências. O progresso veio com a ferrovia que ativou a região, levando as mercadorias num transporte direto para a corte. Mariano Procópio, político influente, gozava de grande prestígio junto ao imperador, mesmo com a decadência, de sua empresa, recebeu, em 1869, a direção da ferrovia. Com a ampliação da linha férrea, ele sugestiona  à Câmara Municipal o aproveitamento da estação que servira a antiga Companhia União e Indústria.

A  polêmica instalou-se e por meio de uma indicação feita pelo vereador Cristóvão Andrade, a Câmara conseguiu junto ao ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas  que a estação ficasse mais próxima ao centro. A praça foi construída sobre uma região pantanosa, adquirida através de uma subscrição e inaugurada no dia 7 de julho de 1877.

Nessa conflituosa disputa nasceu a Praça da Estação, localizada na confluência das ruas: Halfeld, Paulo Frontin, João Pessoa de Rezende, Marechal Deodoro e Francisco Bernardino. Batizada de Praça Dr. João Penido, domina o quarteirão destacando-se a torre com relógio. Resultante da primeira fase de ocupação da área, o edifício de sobrado do Hotel Renascença convive com outras construções marcadas pelo padrão arquitetônico eclético, entre o neo-clássico e o art-noveau, notadamente a Associação Comercial e o Príncipe Hotel, ou o art-deco do antigo Cinema São Luís.

Dona Celina de Andrade Morais, 85, comerciante, bairro Furtado de Menezes, diz que a Praça da Estação não é apenas um patrimônio histórico da cidade; mas sim, um palco de acontecimentos expressivos conforme os que aconteceram e vem acontecendo  em sua vida. Recorda quando, com sua avó Assunpcion Estrada Móra, participou do desfile da Associação Integralista Brasileira (1934),   na adolescência, viu a passeata, por ocasião da visita de Getúlio Vargas. Outro momento importante de seu conhecimento foi em  1980 pelas "Diretas Já" e hoje ela assiste a encerramentos  de campanhas políticas e as reivindicações sindicais.

Além do comércio, outras atividades urbanas contribuíram para o crescimento local. Foram elas: o condutor de carroça e o chofer.

O Sr. Francisco Geraldo da Silva, 87, Chiquinho, bairro Olavo Costa, conta que foi trabalhar na praça em 1955 como condutor de carroça. Era uma profissão autônoma e prestavam serviços as fábricas: Macedo, São Nicolau, Banco de Crédito Real e ao Laboratório Cacau Lessa. Com o desenvolvimento econômico as transportadoras chegaram comprometendo a sobrevivência desse profissional.

A informação que temos sobre o "carro de praça"  nos chegou por meio de Sebastião Leonel, Tãozinho,  bairro Altos Passos, que possuía na época uma frota. Eram carros particulares que transportavam passageiros que chegavam de viagem ou faziam compras na redondeza. Os motoristas desses carros denominavam-se chofer. Com a padronização da frota, os carros passaram a chamar-se "táxi" e o seu condutor "taxista".

Hoje, os taxistas ganharam um novo espaço e os carroceiros, ainda restante, transferidos para as imediações. O lugar, ainda ,continua  como ponto de referência dos que aqui chegam através do transporte urbano e da mini-rodoviária que margeia o rio Paraíbuna. O jardim da praça foi  reformado, ganhando um novo visual e é constante o número de animais e indigentes em sua área.

Apesar do tempo, o quarteirão histórico sobrevive aos contratempos como: a privatização da RFFSA e a desativação da Estação. Esses acontecimentos  foram motivos de grandes manifestações, mas não atingiram seus intentos  como no passado.

O Lago da Estação parece fadado aos conflitos para que se estabeleça.








BIBLIOGRAFIA

OLIVEIRA,  Paulino de (1966). História de Juiz de Fora, 2ª ed.Gráfica Comércio e Indústria Ltda.
MINAS,Tribuna de (encarte). Juiz de Fora em 2 tempos.
JUIZ DE FORA, Instituto de Pesquisa e Planejamento Perfil de (1987). 1ª ed.

Entrevistas:
Celina de Andrade Morais
Francisco Geraldo da Silva
Sebastião Leonel