segunda-feira, 18 de julho de 2011

A Lei dos 15 minutos

Seja de supermercado ou de banco, quer coisa pior que fila? Se vamos as compras, nos sentimos descontraídos (as) a começar pela roupa mais confortável. O estar psicologicamente preparado (a) para o consumo nos dá um pequeno prazer, se colocar atrás um do outro não faz muita diferença,  bem, até a máquina dar o total a pagar.

Naquela quinta-feira, o cumprimento da "Lei  dos 15 minutos" nunca fora tão questionado, a morosidade como o estabelecimento conduzia o atendimento, a  contrariava. Não tinha outra coisa a fazer, a não ser esperar. Cansada começou a divagar, viu-se na pré-escola  preparando-se para a sua primeira fila meio desconsertada  diante de tantos coleguinhas a sua frente. Deixava a sala de aula mantendo a ordem por tamanho, tropeçando uns nos outros e ali começava a primeira lição de civilidade.

Quarenta minutos foi o bastante para destruir toda a sua aprendizagem e para piorar aparece aquela velha conhecida, que o tempo não parecia ter passado para ela. Chega de constrangimentos, não quis aguardar a sua vez e despediu-se da amiga. Correu para casa, diante do espelho pôs-se a virar de vários ângulos, já não era mais a mesma, sentia-se obtusa. Se é, que vocês me entendem!

Na manhã seguinte, ouviu pela rádio local que a agência bancária fora fechada e lacrada por desrespeito a "Lei dos 15 minutos". Em parte sentiu-se aliviada mas o estrago estava feito, ficou desejosa de uma nova lei que a despertasse para a vida, não de forma tão cruel como esta.

Agora, ciente das mudanças inevitáveis, com os pés no chão, prepara-se para à maturidade.

domingo, 12 de junho de 2011

A senha

Tal dia é o batizado, assim recebeu o convite da amiga para a cerimônia religiosa na igreja local. Ao ser comunicada desta forma, desencadeou, nela, um processo de negação e foi fundo ao passado.

Lembrou-se de Gilberto Alencar em seu livro Tal dia é o batizado, o romance de Tiradentes; o título era a senha usada para avisar aos conjurados do dia em que devia explodir a revolta em Minas Gerais. Com certeza, sua amiga conseguiu o feito não conseguido por eles devido a traição de Joaquim Silvério dos Reis. 

Após cientificar-se de que nada a comprometeria nas entrelinhas deste blog, contou-me: o batizado  a colocaria  frente a frente ao pai da criança com quem vivera um amor platônico. Isto mesmo, um amor platônico!  Não é uma loucura?

A princípio pensei tratar-se de um caso patológico, desses acostumados a vermos nos romances de Eça de Queiroz, a típica personagem permeável, lembra-se? Bem, não estamos aqui para julgá-la e sim como sua confidente.

Quando me deixou, estava mais tranquila, bolando mil desculpas para não ir a cerimônia. Agora, cá entre nós, como uma frase pôde despertar uma leitora depois de tantos anos em um contexto tão diferente? Não sei em que vai dá isto, só sei que vou tomar uma chuverada de uns vinte minutos, vestir o meu pijama e dormir. Boa- noite!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Maio

Em pleno mês de maio, nada melhor que este afago poético do poeta  juiz-forano Carlos José Lopes em seu livro Pulsátil/1983:

                                                                 

Maio
desnuda árvores
e amores
enfeita noivas
o chão do parque

Maio
Teus pequenos dias
tuas pequenas luas
a boiarem no céu imenso

Maio
o outono evoca
tua tradição romântica
teu passado de esperanças lívidas
alimentando a cidade
atenta
às suas manhãs
tão úmidas
tua vastidão de horas
a impulsionar
minha alma
ávida de paixões

Maio
dilui-se rapidamente
não espera
que o tempo o segure
pra contar
suas histórias
aos poetas

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Reviver

A primeira vez, que deparei-me com ela, foi impossível ignorá-la diante de tanto sofrimento. Com aquela arrogância arrebatadora, impiedosamente sugava minhas forças.

 Apesar de debilitada pude compreender por que tantos a temiam e na vulnerabilidade daquele momento, num gesto de humildade rendi-me a dor.

Passei não aceitar as medicações, arranquei o  suporte de hidratação venosa e fui refugiar-me na capela do hospital. Senti alguém me espreitando e de uma certa forma vitoriosa me estendia a mão. Irritada, eu  já estava rendida, o que mais ela  queria?

Quando retornei ao quarto, sobre o meu leito um jornal (LC) com aquele depoimento, uma pessoa com câncer nas articulações; que não conseguia mais escrever, esforçava-se naquelas linhas trazendo um fio de esperança e fé. Entendi a mensagem e aquela mão segurei. Quero viver!

A senhora furiosa e implacável relutava com a decisão. Quando deixou o meu quarto, pude vê-la sair por meio do feixe de vida que retornava.

O pesadelo

Tinha lembranças felizes dessa vida terrena, uma delas o nascimento do filho. Nascera em fevereiro, no momento em que Momo, em sua exuberância, enchia a avenida de sons. Do quarto, da maternidade, podia ouvir os gritos e as batucadas dos foliões.

A criança só veio acrescentar àquele casal, mas como na vida, nada acontece do jeito que queremos, para eles não foi diferente. Veio a separação e ela não exitou, assumiu o papel de mãe/pai e continuou a sua jornada.

Não sei, se por ironia  do destino, quando relembrava, orgulhosa, fatos sobre o filho, o toque do telefone trazia a  notícia dele, preso por porte de drogas.  A sensação descrita, por ela,  foi aquela que todos  sentimos ao perder um ente querido. Correu ao quarto, pegou o álbum, que com tanto carinho registrara os seus melhores momentos na infância, na adolescência e até então adulto. Com o coração em frangalho, procurava entender o porquê de sua escolha.

 Mais tarde, mais calma, refletiu, se ele não havia pensado nela, nos filhos e nem na esposa, então que arcasse com seus próprios atos! Confidenciou-me, não saber se tomou a decisão errada, mas na hora do pesadelo, com uma dor dolorida e silenciosa, optou pela sua paz. Não lhe deu ajuda financeira, nem o visitou.

Quem sabe, dentro de uma cela poderá refletir melhor sobre suas escolhas?

Que coragem!

sábado, 29 de janeiro de 2011

Praça da Estação, um quarteirão histórico

Em 1856, o engenheiro Mariano Procópio Ferreira Lage fundou a empresa Companhia União e Indústria, onde instalou a primeira estação de diligências. De lá projetou, construiu e deu nome a primeira estrada de rodagem brasileira. Ela foi planejada para cobrança de pedágio, de suas diligências, encurtar o caminho entre Petropólis e Juiz de Fora  e facilitar o transporte do café.

No entanto, a Companhia não obteve resultados satisfatórios, vindo a extinguir os serviços de diligências. O progresso veio com a ferrovia que ativou a região, levando as mercadorias num transporte direto para a corte. Mariano Procópio, político influente, gozava de grande prestígio junto ao imperador, mesmo com a decadência, de sua empresa, recebeu, em 1869, a direção da ferrovia. Com a ampliação da linha férrea, ele sugestiona  à Câmara Municipal o aproveitamento da estação que servira a antiga Companhia União e Indústria.

A  polêmica instalou-se e por meio de uma indicação feita pelo vereador Cristóvão Andrade, a Câmara conseguiu junto ao ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas  que a estação ficasse mais próxima ao centro. A praça foi construída sobre uma região pantanosa, adquirida através de uma subscrição e inaugurada no dia 7 de julho de 1877.

Nessa conflituosa disputa nasceu a Praça da Estação, localizada na confluência das ruas: Halfeld, Paulo Frontin, João Pessoa de Rezende, Marechal Deodoro e Francisco Bernardino. Batizada de Praça Dr. João Penido, domina o quarteirão destacando-se a torre com relógio. Resultante da primeira fase de ocupação da área, o edifício de sobrado do Hotel Renascença convive com outras construções marcadas pelo padrão arquitetônico eclético, entre o neo-clássico e o art-noveau, notadamente a Associação Comercial e o Príncipe Hotel, ou o art-deco do antigo Cinema São Luís.

Dona Celina de Andrade Morais, 85, comerciante, bairro Furtado de Menezes, diz que a Praça da Estação não é apenas um patrimônio histórico da cidade; mas sim, um palco de acontecimentos expressivos conforme os que aconteceram e vem acontecendo  em sua vida. Recorda quando, com sua avó Assunpcion Estrada Móra, participou do desfile da Associação Integralista Brasileira (1934),   na adolescência, viu a passeata, por ocasião da visita de Getúlio Vargas. Outro momento importante de seu conhecimento foi em  1980 pelas "Diretas Já" e hoje ela assiste a encerramentos  de campanhas políticas e as reivindicações sindicais.

Além do comércio, outras atividades urbanas contribuíram para o crescimento local. Foram elas: o condutor de carroça e o chofer.

O Sr. Francisco Geraldo da Silva, 87, Chiquinho, bairro Olavo Costa, conta que foi trabalhar na praça em 1955 como condutor de carroça. Era uma profissão autônoma e prestavam serviços as fábricas: Macedo, São Nicolau, Banco de Crédito Real e ao Laboratório Cacau Lessa. Com o desenvolvimento econômico as transportadoras chegaram comprometendo a sobrevivência desse profissional.

A informação que temos sobre o "carro de praça"  nos chegou por meio de Sebastião Leonel, Tãozinho,  bairro Altos Passos, que possuía na época uma frota. Eram carros particulares que transportavam passageiros que chegavam de viagem ou faziam compras na redondeza. Os motoristas desses carros denominavam-se chofer. Com a padronização da frota, os carros passaram a chamar-se "táxi" e o seu condutor "taxista".

Hoje, os taxistas ganharam um novo espaço e os carroceiros, ainda restante, transferidos para as imediações. O lugar, ainda ,continua  como ponto de referência dos que aqui chegam através do transporte urbano e da mini-rodoviária que margeia o rio Paraíbuna. O jardim da praça foi  reformado, ganhando um novo visual e é constante o número de animais e indigentes em sua área.

Apesar do tempo, o quarteirão histórico sobrevive aos contratempos como: a privatização da RFFSA e a desativação da Estação. Esses acontecimentos  foram motivos de grandes manifestações, mas não atingiram seus intentos  como no passado.

O Lago da Estação parece fadado aos conflitos para que se estabeleça.








BIBLIOGRAFIA

OLIVEIRA,  Paulino de (1966). História de Juiz de Fora, 2ª ed.Gráfica Comércio e Indústria Ltda.
MINAS,Tribuna de (encarte). Juiz de Fora em 2 tempos.
JUIZ DE FORA, Instituto de Pesquisa e Planejamento Perfil de (1987). 1ª ed.

Entrevistas:
Celina de Andrade Morais
Francisco Geraldo da Silva
Sebastião Leonel

Justificativa

Eu escrevo porque o momento exige,
estou viva e não morta.
Minha imaginação aflora,
sinto o meu ser poeta.

Poeta que descreve a vida,
poeta que encobre a morte.
Eu escrevo porque a palavra se insinua,
ela é mágica e incitante.

Se fantasio ou não,
nem sinto!

sábado, 22 de janeiro de 2011

Parasita

Você foi implacável
julgando-se no direito de ter
e, talvez, o seu egoísmo
tenha te impedido de ver
o meu tempo anulado
para você sobreviver

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Momento

E a criança pedala sua bicicleta
Corre ao vento e contra o tempo
Lá vai o menino estrada afora
Alegre, feliz no seu momento.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Stress ou ...

    Embora aposentada continuava a dar aulas em sua casa. Naquela manhã, levantou-se como de costume, colocou o lixo fora, foi a padaria e preparou o seu café. Olhou para o relógio, oito horas e trinta minutos, estranhou o atraso das crianças. Foi quando viu uma delas passar e falou:

   - Já estava ligando para você, queria saber o porquê de sua falta!

    Estranhamente, o menino respondeu:

 -  Mas, hoje, não é meu dia!

    Imediatamente, ligou para outro aluno e o pai sonolento e confuso, não entendia por que o filho deveria estudar naquele dia. Foi quando ligou para a mãe de Carol e esta disse que não fora avisada, pela filha, sobre a aula de domingo. Aí, viu, que dera o maior fora, tentou disfarçar, desculpou-se,  inventou algo, até a mim, que a acompanho a tanto tempo, conseguira me enganar.

    Durante a semana, pude notá-la assustada e pensativa. Num dado momento, parece que os seus neurônios tilintaram, trazendo-a à razão. Lembrou-se que no dia anterior, sábado, recebera pessoas que só a visitavam aos domingos. Ufa... que alívio! Trocou as bolas ou melhor trocou os dias!

    Mesmo satisfeita com este subterfúgio, no dia seguinte procurou o psiquiatra. Credo em cruz!