quinta-feira, 28 de abril de 2011

Reviver

A primeira vez, que deparei-me com ela, foi impossível ignorá-la diante de tanto sofrimento. Com aquela arrogância arrebatadora, impiedosamente sugava minhas forças.

 Apesar de debilitada pude compreender por que tantos a temiam e na vulnerabilidade daquele momento, num gesto de humildade rendi-me a dor.

Passei não aceitar as medicações, arranquei o  suporte de hidratação venosa e fui refugiar-me na capela do hospital. Senti alguém me espreitando e de uma certa forma vitoriosa me estendia a mão. Irritada, eu  já estava rendida, o que mais ela  queria?

Quando retornei ao quarto, sobre o meu leito um jornal (LC) com aquele depoimento, uma pessoa com câncer nas articulações; que não conseguia mais escrever, esforçava-se naquelas linhas trazendo um fio de esperança e fé. Entendi a mensagem e aquela mão segurei. Quero viver!

A senhora furiosa e implacável relutava com a decisão. Quando deixou o meu quarto, pude vê-la sair por meio do feixe de vida que retornava.

O pesadelo

Tinha lembranças felizes dessa vida terrena, uma delas o nascimento do filho. Nascera em fevereiro, no momento em que Momo, em sua exuberância, enchia a avenida de sons. Do quarto, da maternidade, podia ouvir os gritos e as batucadas dos foliões.

A criança só veio acrescentar àquele casal, mas como na vida, nada acontece do jeito que queremos, para eles não foi diferente. Veio a separação e ela não exitou, assumiu o papel de mãe/pai e continuou a sua jornada.

Não sei, se por ironia  do destino, quando relembrava, orgulhosa, fatos sobre o filho, o toque do telefone trazia a  notícia dele, preso por porte de drogas.  A sensação descrita, por ela,  foi aquela que todos  sentimos ao perder um ente querido. Correu ao quarto, pegou o álbum, que com tanto carinho registrara os seus melhores momentos na infância, na adolescência e até então adulto. Com o coração em frangalho, procurava entender o porquê de sua escolha.

 Mais tarde, mais calma, refletiu, se ele não havia pensado nela, nos filhos e nem na esposa, então que arcasse com seus próprios atos! Confidenciou-me, não saber se tomou a decisão errada, mas na hora do pesadelo, com uma dor dolorida e silenciosa, optou pela sua paz. Não lhe deu ajuda financeira, nem o visitou.

Quem sabe, dentro de uma cela poderá refletir melhor sobre suas escolhas?

Que coragem!