segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Fênix

    O que você vai ser quando chegar à terceira idade? Não se espante e prepare-se para responder o que cansou de perguntar aos seus filhos e ao dos outros. Lembra-se?
    - O que você vai ser quando crescer?
    Acredito que fazíamos esta interrogação com a melhor das intenções, pensando motivar as crianças para o futuro. Mas, neste momento, quando a pergunta em questão é dirigida a você, quero com isto estar preparando-o (a) para uma vida melhor. Não se apavore, já não há mais tempo para choramingar pelos cantos, para as rabugices, para as depressões ou outras coisas do gênero. Vamos reaja! Sentindo-se "cada vez mais lindo, cada vez mais belo".
    Num passado, não muito distante, as pessoas diziam, num tom pejorativo, que "coroa" seriam aqueles ou aquelas acima dos quarenta anos. Consideravam-se  "idosos (as)" todos acima de  cinquenta e cinco anos, e  muitos (as) morriam cedo sem perspectiva de vida.
    Hoje, ter acima de sessenta anos significa que ainda se tem muito a fazer em benefício próprio e para o mundo. Não espere a morte chegar  "solte  as  suas asas, solte  as suas feras," levante, caminhe, olhe para o alto  e, assim, como a ave Fênix ressurja para a vida!
    Não titubei, afinal, o que você vai fazer quando chegar à terceira idade?

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A mensagem

   Em cima  de seu trenó, puxado por um carro de propaganda, lá estava o bom velhinho tocando o seu sininho e acenando a todos que passavam.
   Os transeuntes íam e vinham, sem se dar conta do acontecimento  ao seu redor. De longe, eu me perguntava - o que faz as pessoas ficarem apáticas e distantes?
   Seria aquela figura grotesca com sua roupa vermelha, barba branca e suando pelos "polos", que não era do norte nem do sul?
   Brincadeiras à parte! Talvez, embaixo daquela fantasia, emprestando sua pele; numa temperatura de 32º, encontra-se  um desempregado fazendo biscate.
   Só, depois dessa e de tantos anos, pude compreender o quanto é difícil, num país tropical, acreditar em Papai Noel!
   Que o supermercado consiga seu intento.  E quem sabe, no próximo ano, de uma maneira mais humana, possa nos desejar... Feliz Natal!

        

Volúpia

     Era um domingo como outro qualquer. Espreguiçou de um lado para o outro, fez suas orações, sentiu algo diferente, mas não sabia explicar. O dia anterior  passara recolhida embaixo das cobertas, devorando uma nova leitura caída em suas mãos.
    Já passava das dez horas, entrou no  banheiro para a higiene matinal. Olhou-se no espelho, deparou-se com a jovem existente, bela, tranquila e preguiçosa como as manhãs de outono. Havia, dentro dela, o desejo de ser amada.Não lhe deu a mínima, pois somente ela a conhecia e, apesar de toda aquela manifestação, existia o medo, a autopiedade, que a impedia de ser feliz.
   Banhou-se, a água acariciava o seu corpo, numa intimidade, tal, que havia uma relação de hidrossexualismo. Chamou-se à realidade e se recompôs. O sol esboçava alguns raios, arrumou e foi comprar  o jornal.
   De repente, tomou rumos não planejados, foi à casa de umas amigas, atendendo a um convite para almoço. O relógio marcava cinco horas quando  as deixou;  mal dobrou a esquina, lá estava ele como uma aparição. Primeiro olhou aquela barriga e reconheceu o seu dono; quando se deu conta, se cumprimentavam afetuosamente. Estranhou aquela receptividade e aproveitou o máximo. Acabara de chegar à cidade, vinha a negócios.
   Naquele instante, a jovem, que ela conseguira acalmar, se agitava. Não tinha mais como contê-la, pulava-lhe aos olhos, deixando transparecer toda sua volutuosidade e uma certa reciprocidade pairava naquele momento, deixando-a feliz e esperançosa.






sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Crime doloso

    O dia fora normal para aquela mulher, depois da labuta, agora  o descanso. Estirada em sua cama aguardava  que Morfeu a transportasse para os sonhos. Tentando, talvez, ajudá-lo na trancendência, ora fechava os olhos, ora os abria. Foi quando ouviu um barulho, insistente, vindo de alguma parte do quarto. Por segundos, prendeu a respiração e a sua mente rastreou o estranho ruído.
    Com uma percepção felina pulou da cama e se pôs diante do guarda-roupa, em cujo interior podia ouvir nitidamente algo mexer. Corajosamente, gritou pelo irmão que lhe veio em socorro. Se eu não fosse o narrador, com certeza, vocês não acreditariam no quadro cômico instalado naquele cômodo Os dois armados, com vassouras, abriam e fechavam o armário numa tentativa de pegar o invasor. De repente, depararam com um ser apavorado, indefeso. Este saltou com sua agilidade roedora ganhando o hall da escada, indo para o andar térreo.
   Ela deixou para o outro dia as providências, voltou para o quarto, tentou dormir. Ao amanhecer, desceu a escada, deparou com aquele olhar suplicante, agonizante. Nada mais poderia ser feito, num ímpeto proferiu-lhe algumas palavras de extrema-unção, como se isso redimisse a enorme culpa .
   Convocou a família, mas como cúmplice; pois ,assim, sentiria menos dolosa. Afinal fora sua mãe que indicara o veneno. O irmão, ao deparar com a cena, teve o mesmo sentimento de compaixão, isto só serviu para aumentar a sua pena .
   A mãe foi imparcial - dê lhe uma cacetada, acabem com isto!
   - Basta, chega de violência, esbravejou!
   Enquanto isto o irmão, com uma pá, depositava o rato, sem vida, em um saco de lixo.

sábado, 4 de dezembro de 2010

A pianista

    O ônibus parou, o motorista gentilmente indicou-lhe a rua. Tirou da bolsa a agenda, conferiu o endereço. Olhou para aquele confortável sobrado e adentrou-se pela escada. A professora de música lhe aguardava no topo da escada, ali, estava ela vencendo mais uma etapa.
     O piano era o instrumento o qual  pretendia fazer a sua iniciação  musical. Embora a professora fosse do Conservatório, de formação técnica em piano, usava o teclado para as suas aulas. A princípio, tentou de todas as formas convencê-la que o que queria mesmo, era aprender no piano.
      D. Sandra estava irredutível, pois, para ela, ambos os instrumentos tinham teclados iguais. Se esta colocação viesse de um leigo, seria bastante compreensível, mas vinda de uma erudita, mostrava o despreparo e a falta de conhecimento, a decepção foi visível em seu olhar.
      Resolveu, por direito e até por defesa própria, defender o piano, fez colocações brilhantes. Falou sobre as diferenças entre os instrumentos como: a colocação das claves, o físico, o som, a postura e o ser pianista e não tecladista. Foi um belo discurso mas não convincente.
      Olhou para frente, viu o que a levava, ali, era a preparação para ingressar no Conservatório e resolveu ceder a este desafio. Sentou-se diante do teclado, posicionou-se,  os seus dedos deslisaram sobre as teclas  deixando-se ouvir as suas primeiras notas musicais: dó... ré... si.. dó...
       ... E o princípio era  o cravo e o piano era o sonho e o teclado é que se fez instrumento.