quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Relembranças

   Ainda ouço o grito de nossas algazarras, sinto o cheiro de couro da minha merendeira e da minha pasta. Vejo o meu material escolar com suas etiquetas identificando-me como aluna.
   Quando a professora entrou na sala de aula, eu devorava o meu livro de leitura sob os olhos espantados dos meus coleguinhas. Saí da classe com a professora e o livro, acompanhada pelos olhares intrigantes como se tivesse aprontado uma traquinagem.
    Fui conduzida ao gabinete da Madre Superiora Adelina a quem tanto temia. Aquela mulher de manto marrom e gola engomada curvou-se, ajeitando-me em seu colo. Logo em seguida, pegou a grande bíblia e pediu que lesse um de seus trechos. Até hoje, não entendo muito o que se passou naquele recinto. Só sei que fui promovida para uma sala mais adiantada.
   Iniciei um novo livro: "As mais belas histórias"; através dele apaixonei-me por Cecília Meireles no "troc...troc..." de seus tamanquinhos, talvez porque, naquela época, usávamos tamancos. E foi através de Afonso Celso em sua poesia " O gato", que escolhi o meu animal de estimação!
   Os meus pais eram rígidos, eu tinha poucos amigos e passava a maior parte do tempo na companhia dos livros. E foram eles  que deram-me como companheiros: Irmãos Grimm, Christian Andersen, Monteiro Lobato, Oscar Wilde, Cronin, José Lins do Rego, Machado de Assis, José de Alencar, Guimarães Rosa, Rachel de Queiroz, Michel Quoist, Antoine Saint Exupery, Aloísio Azevedo, Rollo May, Frank Caprio, Lígia Teles, Manoel Bandeira, Mário Quintana, Elias José, Moacir Scliar, Roseane Murray, Fernando Pessoa, Francisco Marques (Chico dos Bonecos), Garret, Lígia Bojunga Nunes, Arthur da Távola, Patativa de Assaré, Orígenes Lessa, Nélida Peñon, Maria José Dupré, Olavo Bilac, Castro Alves, Edmilson Pereira, Wilson de Lima Bastos, Ymah Théres, Yacir Freitas, Cony, Sílvia Orthof, Clarice Lispector e tantos outros.
   E nesse entrelaçamento de leituras, eu nasci ... leitora!