terça-feira, 23 de novembro de 2010

A lei do mais forte

    Durante muitos anos ficou reforçado, em mim, a lei que "o mais forte" sempre vencia. Era em vão para aqueles que tentassem convencer-me ao contrário, toda esta crença fundamentava-se em meu passado.

    Lembro-me da minha infância, na escola quando batia o sino para o recreio, corríamos para ocupar um lugar no zanga-burrinho (um tipo de gangorra) e sempre éramos surpreendidas pelos mais fortes da sala, nos arrancavam impiedosamente de nossos lugares. Então, este tormento acompanhou-me  por um bom tempo, ainda bem, que são lembranças pretéritas. Cresci, ganhei uma estatura considerável e esta lei veio cair no esquecimento.

    Todas as manhãs, eu e minha mãe ficávamos maravilhadas diante do espetáculo que acontecia no quintal vizinho. No abacateiro, diversos pássaros desfrutavam da água e do alimento colocado para eles.

     Aquela cena fazia parte de nossa rotina, até... sermos surpreendidas por um bando de bem-te-vis. Só ouvimos os seus gritos de guerra, seguidos de bater o bico repicando o som. Sem exageros, este atentado inesperado foi comparado, por nós, ao inesquecível de onze de setembro nos Estados Unidos. Chegaram, apossaram, chocalharam à árvore e destruíram os ninhos, colocando as aves residentes em alvoroço.

     Cecília Meireles em seu texto História de bem-te-vi, temeu pelo desaparecimento desses pássaros   por conta do crescimento desordenado de sua cidade. Ledo engano, Cecília! Eles continuam, por aqui, preservados e em número maior. Teve mudanças significativas, em seu comportamento, de rebeldes à vândalos.

     Por algumas semanas fomos acordadas pelo barulho estridente dos arruaceiros, talvez, haja uma explicação por parte dos ornitólogos para esse fenômeno mas para mim, voltou aquele velho trauma infantil, independente das espécies, "o grupo mais forte" sai vencedor!