sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Crime doloso

    O dia fora normal para aquela mulher, depois da labuta, agora  o descanso. Estirada em sua cama aguardava  que Morfeu a transportasse para os sonhos. Tentando, talvez, ajudá-lo na trancendência, ora fechava os olhos, ora os abria. Foi quando ouviu um barulho, insistente, vindo de alguma parte do quarto. Por segundos, prendeu a respiração e a sua mente rastreou o estranho ruído.
    Com uma percepção felina pulou da cama e se pôs diante do guarda-roupa, em cujo interior podia ouvir nitidamente algo mexer. Corajosamente, gritou pelo irmão que lhe veio em socorro. Se eu não fosse o narrador, com certeza, vocês não acreditariam no quadro cômico instalado naquele cômodo Os dois armados, com vassouras, abriam e fechavam o armário numa tentativa de pegar o invasor. De repente, depararam com um ser apavorado, indefeso. Este saltou com sua agilidade roedora ganhando o hall da escada, indo para o andar térreo.
   Ela deixou para o outro dia as providências, voltou para o quarto, tentou dormir. Ao amanhecer, desceu a escada, deparou com aquele olhar suplicante, agonizante. Nada mais poderia ser feito, num ímpeto proferiu-lhe algumas palavras de extrema-unção, como se isso redimisse a enorme culpa .
   Convocou a família, mas como cúmplice; pois ,assim, sentiria menos dolosa. Afinal fora sua mãe que indicara o veneno. O irmão, ao deparar com a cena, teve o mesmo sentimento de compaixão, isto só serviu para aumentar a sua pena .
   A mãe foi imparcial - dê lhe uma cacetada, acabem com isto!
   - Basta, chega de violência, esbravejou!
   Enquanto isto o irmão, com uma pá, depositava o rato, sem vida, em um saco de lixo.