sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Volúpia

     Era um domingo como outro qualquer. Espreguiçou de um lado para o outro, fez suas orações, sentiu algo diferente, mas não sabia explicar. O dia anterior  passara recolhida embaixo das cobertas, devorando uma nova leitura caída em suas mãos.
    Já passava das dez horas, entrou no  banheiro para a higiene matinal. Olhou-se no espelho, deparou-se com a jovem existente, bela, tranquila e preguiçosa como as manhãs de outono. Havia, dentro dela, o desejo de ser amada.Não lhe deu a mínima, pois somente ela a conhecia e, apesar de toda aquela manifestação, existia o medo, a autopiedade, que a impedia de ser feliz.
   Banhou-se, a água acariciava o seu corpo, numa intimidade, tal, que havia uma relação de hidrossexualismo. Chamou-se à realidade e se recompôs. O sol esboçava alguns raios, arrumou e foi comprar  o jornal.
   De repente, tomou rumos não planejados, foi à casa de umas amigas, atendendo a um convite para almoço. O relógio marcava cinco horas quando  as deixou;  mal dobrou a esquina, lá estava ele como uma aparição. Primeiro olhou aquela barriga e reconheceu o seu dono; quando se deu conta, se cumprimentavam afetuosamente. Estranhou aquela receptividade e aproveitou o máximo. Acabara de chegar à cidade, vinha a negócios.
   Naquele instante, a jovem, que ela conseguira acalmar, se agitava. Não tinha mais como contê-la, pulava-lhe aos olhos, deixando transparecer toda sua volutuosidade e uma certa reciprocidade pairava naquele momento, deixando-a feliz e esperançosa.